quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Era só atravessar a rua

"Oh Dudu, por que você está brigando com tudo e com você? Era só atravessar a rua. A gente te ajudava"

O pequeno talvez não saiba, mas não é tão simples atravessar uma rua. Atravessar ruas é perigoso, encontramos todo tipo de gente, de monstros, principalmente os nossos próprios e gigantescos monstros. Nos deparamos com a violência que exala fortemente dos nossos poros, com a angústia que destroça nosso peito em mãos estendidas nas calçadas com pernas feridas e estômago vazio. E com as quedas em buracos-úlceras que azedam nossos dias. Ainda inalamos os maus cheiros de lixo e urina e não só, o mau cheiro da falta de educação, da falta de estrutura de uma cidade doente. Meu pequeno queria me proteger porque percebe que adoeço a cada saída, reclamando de tudo, reclamando de mim. Naquele momento eu entendi tanta coisa e ele tem apenas 4 anos. Ele entende mais do que eu.

Atravessar a rua, para ele, é simples. Quem sabe? É só pedir por favor e os carros param, respeitam o sinal, o pedestre, não há perigo de atropelamento, assalto, não há buracos. Atravessando a rua encontramos nossos pares gentis, cuidadosos, sorridentes com dentes na boca.

Agora, a minha boca amarga e minha garganta trava, como vejo travado na porta de casa o trânsito nessa véspera de carnaval, onde tentarei atravessar as ruas sem me lembrar de nada, onde tentarei esquecer, por instantes, de tanta coisa que me prende em casa.

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